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Pega Essa Dica – Na Teia da Aranha

Na Teia da Aranha (Geomijip, 2023), dirigido por Kim Jee-woon, é um filme sul-coreano que explora o cinema sob a censura política da Coreia dos anos 1970. Criado durante a pandemia, período em que Jee-woon refletiu sobre o futuro da arte cinematográfica e suas próprias inseguranças, acompanha um diretor (Song Kang-ho) insatisfeito que decide refilmar seu filme, revelando as tensões entre criação artística e controle estatal.

Visualmente, o filme se destaca. A fotografia de Kim Ji-yong cria uma atmosfera densa, tensa e claustrofóbica, que reflete o clima político opressivo da época. A alternância entre o preto e branco do filme dentro do filme — uma escolha estética inspirada na admiração do diretor por esse tipo de cinema — e as cenas coloridas dos bastidores acrescenta uma camada de referência histórica e homenageia o estilo da época. A trilha sonora de Mowg, ainda que sutil, amplia a imersão sensorial.

O início do longa pode parecer lento, mas a partir do meio para o final a narrativa ganha fôlego e prende mais o espectador. A obra mergulha intensamente na metalinguagem, oferecendo um panorama tecnicamente rico, cheio de referências e ironias sobre o fazer cinematográfico e os desafios da criação artística sob censura. O filme transita entre gêneros — thriller, terror, comédia, drama e até com toques de melodrama exacerbado, quase novelesco — o que confere dinamismo e camadas de complexidade à experiência.

Por outro lado, essa estrutura complexa é também o ponto mais desafiador da obra. A metalinguagem, embora estimulante e inteligente, pode parecer por vezes prolixa e autocentrada, comprometendo o ritmo e a fluidez da narrativa. Isso pode afastar parte do público, especialmente aqueles que buscam uma história mais coesa e emocionalmente aprofundada, já que os conflitos internos dos personagens não recebem a atenção necessária.

No elenco, Song Kang-ho lidera com uma atuação sólida, expressando as nuances de um artista dividido entre perfeccionismo e o temor da repressão. Krystal Jung, como a atriz protagonista do filme dentro do filme, destaca-se ao incorporar a dualidade entre a fragilidade da personagem e a intensidade exigida pelo papel, trazendo uma presença cativante à tela. Lim Soo-jung e Jeon Yeo-been também entregam interpretações competentes, embora alguns personagens secundários fiquem menos desenvolvidos. Porém, essa limitação não é necessariamente culpa dos atores, já que o filme não nos convida verdadeiramente a nos importar com os personagens ou suas ambições.

No geral, Na Teia da Aranha é uma obra instigante, que provoca reflexões sobre arte, poder e censura, mas que exige paciência do público para lidar com sua estrutura por vezes desequilibrada. Uma experiência recomendada especialmente para quem aprecia cinema autoral e histórico, mesmo que o filme não alcance plena coesão narrativa.

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