Pega Essa Dica – Oh, Canadá
Dirigido por Paul Schrader, Oh, Canadá é uma obra que ambiciona explorar temas como culpa, memória e redenção por meio de uma estrutura narrativa fragmentada e visualmente ousada. Baseado no romance Foregone, de Russell Banks, o filme acompanha Leonard Fife (Richard Gere), um documentarista consagrado que, à beira da morte, decide revelar segredos do passado durante uma entrevista conduzida por sua esposa (Uma Thurman) e um ex-aluno (Michael Imperioli).

A narrativa alterna entre tempos distintos e estilos variados, com mudanças no formato de tela e transições entre cor e preto e branco para diferenciar as fases da vida de Fife. Embora essa abordagem ofereça momentos visualmente marcantes, ela compromete a coesão do filme: em apenas 91 minutos, Oh, Canadá tenta abraçar reflexões existenciais, crítica político-cultural e estética experimental, sem desenvolver plenamente nenhuma dessas frentes. O resultado é uma experiência visualmente densa, mas emocionalmente dispersa, que pode afastar o espectador pela falta de foco.
Schrader parece dividido entre conduzir uma confissão íntima ou um comentário social mais amplo, e essa indecisão se reflete em um roteiro que oscila entre o melodrama e a pretensão filosófica, sem alcançar um ponto de equilíbrio. Ainda assim, o elenco consegue extrair camadas de humanidade do material.

Richard Gere entrega uma performance contida e comovente, transmitindo com precisão o peso dos arrependimentos e da autoanálise de um homem à beira da morte. Jacob Elordi, que divide o protagonismo como o jovem Fife, tenta dar profundidade ao papel, mas encontra dificuldade em se desprender de sua imagem de galã, o que compromete parte da credibilidade dramática.
No elenco de apoio, Uma Thurman imprime dignidade e firmeza à esposa que acompanha a lenta revelação dos segredos do marido, apesar de ser pouco aproveitada pelo roteiro. Michael Imperioli, como o ex-aluno que conduz a entrevista, cumpre bem sua função como contraponto racional à torrente emocional do protagonista, ainda que com espaço limitado. Já Kristine Froseth, no papel da jovem Emma, entrega uma atuação sutil e eficiente, conseguindo sugerir camadas mesmo com pouco tempo em cena.
Em linhas gerais, Oh, Canadá é um filme que mira alto — talvez alto demais para o espaço que ocupa. Seu maior obstáculo é a própria ambição, que o impede de atingir a profundidade que almeja. Ainda assim, há valor na tentativa: como estudo de personagem e experimento formal, revela lampejos de sensibilidade e coragem estética. É irregular, mas longe de ser desprovido de interesse.

