Pega Essa Dica – Thunderbolts

Thunderbolts* emerge como uma das produções mais humanas e ousadas do Universo Cinematográfico da Marvel até agora. Sob a direção precisa e intimista de Jake Schreier, o longa rompe com o verniz habitual da franquia e aposta numa abordagem mais crua e visceral, que reflete com fidelidade o estado psicológico fragmentado de seus personagens. O roteiro, assinado por Eric Pearson e Joanna Calo, demonstra uma maturidade rara ao lidar com temas como trauma, solidão, depressão e saúde mental, evitando a superficialidade que muitas vezes acompanha as grandes produções do gênero.
Florence Pugh, no papel de Yelena Belova, entrega uma performance comovente e absolutamente controlada, sustentando grande parte da carga dramática da narrativa. Sua contenção emocional — sempre à beira do colapso, mas jamais rendida a ele — revela uma profundidade que transcende os limites do gênero. Já Lewis Pullman surpreende como Robert Reynolds, o Sentinela, ao encarnar com sensibilidade a dualidade entre o herói e sua entidade destrutiva, o Vácuo. Sua atuação, permeada por uma melancolia densa, oferece ao personagem uma vulnerabilidade brutal, que estabelece um vínculo direto com o espectador.
O elenco de apoio, composto por Wyatt Russell (Agente Americano), David Harbour (Guardião Vermelho), Hannah John-Kamen (Fantasma) e Sebastian Stan (Bucky Barnes), reforça a proposta de um grupo formado por figuras danificadas, moralmente ambíguas e emocionalmente exaustas. Schreier sabe como dar espaço para esses personagens respirarem, favorecendo a introspecção em detrimento do espetáculo. Ainda assim, alguns membros do grupo são visivelmente menos desenvolvidos, sendo reduzidos a favor da trama. Paralelamente, Julia Louis-Dreyfus retorna como Valentina Allegra de Fontaine e, finalmente, encontra espaço para explorar nuances mais complexas de sua personagem, revelando uma figura mais calculista e envolvida do que nas suas participações anteriores. Sua atuação equilibra carisma e manipulação, acrescentando tensão à narrativa, especialmente à medida que seus planos se tornam mais claros.

Do ponto de vista técnico, o filme também se destaca. A direção de fotografia alterna entre tons frios e paletas desbotadas, acentuando a atmosfera sombria e melancólica da história. A montagem permite que as cenas se desenvolvam com o tempo necessário, favorecendo o envolvimento emocional do público. Já a trilha sonora, contida e estratégica, funciona como um subtexto afetivo, reforçando a sensação de perda e a busca constante por redenção. Apesar de alguns diálogos pouco inspirados e da clara presença de cenas refilmadas, a execução é sólida o suficiente para comover e entreter com igual intensidade.
Diferente da tendência de amenizar conflitos internos para priorizar a ação, Thunderbolts* abraça suas rachaduras narrativas como parte essencial da experiência. As falhas dos personagens ecoam na própria estrutura do filme, que opta por ser imperfeito, mas honesto. E é justamente nessa honestidade que reside sua força: no retrato de heróis quebrados, lutando por algum sentido — ou simplesmente para continuar existindo.
Combinando sequências de ação eficientes, humor ácido e uma carga dramática inesperadamente forte, o longa entrega um espetáculo que é ao mesmo tempo enérgico e profundamente comovente. Ao final, a experiência emocional é tangível: lágrimas podem escapar, não por grandiosidade épica, mas por um tipo de heroísmo mais silencioso — aquele da resistência emocional.
Em última análise, Thunderbolts* marca uma virada significativa para o MCU: um passo em direção a narrativas mais maduras, vulneráveis e existencialmente honestas. Uma obra imperdível, principalmente por renunciar às fórmulas fáceis em favor de uma história que encara a dor de frente e dela extrai esperança.

