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Pega Essa Dica – O Sabor da Vida

Quando nós, meros mortais, consumidores de delivery e fast-food, pensamos em países com culinária sofisticada, a França logo vem a mente. Lá nasceram pratos como “Foie Gras” (fígado de pato ou ganso gorduroso cozido e temperado com sal e pimenta), “Coq Au Vin” (pedaços de frango cozidos em vinho tinto, caldo de carne e legumes, temperado com ervas), “Ratatouille” (não é a animação, e sim um prato vegetariano), “Quiche” (considerada a torta ideal para um brunch), “Crème Brûlée” (sobremesa feita com creme de leite, gemas de ovo e açúcar), entre tantas outras iguarias.

 Se vocês estão se perguntando o porquê descrevi, acima, tantos pratos, é para que possam ter uma ideia do que encontrarão no filme: O Sabor da Vida (La Passion de Dodin Bouffant), anteriormente intitulado “The Pot-au-Feu” (continuem lendo a crítica até a sinopse e logo entenderão), indicado pela França ao Oscar 2024 como melhor filme internacional.

O filme é baseado livremente no livro “La Vie et la Passion de Dodin-Bouffant” escrito, no ano de 1924, pelo suíço Marcel Rouff.

Estrelado por Benoît Magimel e Juliette Binoche – dois atores franceses consagrados que já foram casados na vida real – nos deparamos com um filme rico em “food porn”, o que seria o equivalente a dizer que se trata de uma pornografia alimentar. Mas calma, não é no sentido perjorativo, e sim por valer-se de recursos para glamorizar a comida visualmente, a fim de atrair a atenção de quem a vê para deixar com água na boca. Em resumo, seria igual vemos hoje em dia nas redes sociais e em cardápios de restaurantes, a foto de forma apelativa, tudo questão de estética e apresentação, fazendo algo parecer estupendo e saboroso. No longa, somos bombardeados com cenas e mais cenas de legumes e carnes, tudo refogado e com aplicação de diversos temperos, realizadas em tomadas lentas e detalhistas. De bom grado para apreciadores do contemplativo.

O diretor responsável por todo esse Mise-en-scène (jogo de cena, tudo aquilo que aparece diante da câmera e seu arranjo) é o franco-vietnamita Tran Anh Hung, responsável por “O Cheiro do Papaia Verde” indicado no ano de 1993 ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

A decupagem do diretor, ou seja, a melhor forma que o diretor pensou em filmar as cenas, mostram que seu intuito sempre foi o de que o público saboreasse com o olhar o ritmo culinário encenado pelos atores, evitando cortes abruptos e óbvios.

Enfim, vamos a sinopse, ligeiramente modificada para evitar Spoilers: Dodin Bouffant (Benoit Magimel) é um homem acostumado a proporcionar banquetes entre seus amigos da alta sociedade. Ele tem uma afeição de vários anos por sua empregada-cozinheira Eugénie (Juliette Binoche). Esta por sua vez, relutante em se comprometer, passa seus dias realizando pratos idealizados pelo patrão, contando com a ajuda de Violette (Galatéa Bellugi) e de sua possível aprendiz Pauline (Bonnie Chagneau-Ravoire). Mas até que ponto esse amor velado será cozinhado em banho-maria? E o que acontece quando Dodin Bouffant decide servir um pot-au-feu (um ensopado de carne de boi com legumes) para retribuir o convite do príncipe da Eurásia que o abarrotou de comida?

Se a sinopse aparentemente passa a sensação de que o fio narrativo será complexo, não se enganem. O romance da trama não encanta e a fragilidade do roteiro é facilmente detectável, algo que nem mesmo a excelente interpretação de todo o elenco resolve.

Isso se deve muito ao tempo de duração demasiadamente superior ao necessário, visto que diálogos são escassos se comparados as quantitativas cenas com ênfases gastronômicas.

Quanto a trilha sonora, não há o que se falar, pois, imperceptível aos espectadores, visto que não acrescenta ou retira qualquer tipo de emoção aos personagens ou as situações mostradas.

Podemos dividir o filme em três momentos narrativos distintos. Nem todos alegres, até porque se assim fosse, não estaríamos diante de um drama romântico. Como o tema Gastronomia encontra-se em alta diante dos holofotes da televisão, apreciadores de Masterchef devem se render ao gosto do diretor. Agora aqueles que procuram algo para chorar como se estivessem descascando uma cebola, passem longe dessa obra.

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